quinta-feira, 25 de março de 2010

Deepak Chopra - 7 Leis do Sucesso Espiritual


1ª Lei da Potencialidade Pura
2ª Lei da Doação
3ª Lei do Carma oo da Causa e Efeito
4ª Lei do Mínimo Esforço
5ª Lei da Intenção de e do Desejo
6ª Lei do Distanciamento
7ª Lei do Darma ou do Propósito de Vida
Todo mundo tem um talento. E, quando esse dom beneficia os outros, chega-se à exultação do espírito - que é o objetivo supremo na vida. Aplique o darma em sua vida com os seguintes passos: Nutra a divindade que existe em você, prestando atenção ao que anima seu corpo e sua mente. Faça uma lista de seus talentos únicos. Depois, produza outra relação das coisas que adora fazer quando expressa esses talentos. Diga então: “Eu os expresso e os ponho a serviço da humanidade, perco a noção do tempo e crio abundância em minha vida e na dos outros”. Pergunte-se diariamente: “Como posso servir?” e “como posso ajudar?”. As respostas permitirão ajudar seus semelhantes com amor. Para Chopra, assumimos uma forma física para cumprir um intento particular nesta existência. Isso quer dizer que cada um de nós apresenta um talento e uma maneira singular de expressá-lo - algo que a gente pode fazer melhor que todo mundo. Dessa forma, trabalharemos com amor, sem perceber o passar das horas. “É como tecer roupas com fios que vêm do coração”, ensina o poeta Kalil Gilbran. Já parou um pouquinho para pensar nisso? Afinal, sempre existe tempo para revolucionar a vida

sexta-feira, 19 de março de 2010

Instâncias do Agora

Natureza...



Com frequência observo a sociedade dos bichos para compreender a selva dos homens!....Olho para uma multidão e vejo uma manada e sinto os mesmos impulsos de sobrevivência, os mesmos instintos naturais que guiam homens e animais!...As crises surgem no caminho dos homens desesperados, como os rios no caminho dos gnus e das zebras em pânico a tentarem-se esquivar das bocarras dos crocodilos da finança!...Enfim, é a lei da selecção natural!...:)

Teoria do Centésimo Macaco


Ressonância mórfica: a teoria do centésimo macaco
Na biologia, surge uma nova hipótese que promete revolucionar toda a ciência

Por José Tadeu Arantes,

Era uma vez duas ilhas tropicais, habitadas pela mesma espécie de macaco, mas sem qualquer contato perceptível entre si. Depois de várias tentativas e erros, um esperto símio da ilha “A” descobre uma maneira engenhosa de quebrar cocos, que lhe permite aproveitar melhor a água e a polpa. Ninguém jamais havia quebrado cocos dessa forma. Por imitação, o procedimento rapidamente se difunde entre os seus companheiros e logo uma população crítica de 99 macacos domina a nova metodologia. Quando o centésimo símio da ilha “A” aprende a técnica recém-descoberta, os macacos da ilha “B” começam espontaneamente a quebrar cocos da mesma maneira.

Não houve nenhuma comunicação convencional entre as duas populações: o conhecimento simplesmente se incorporou aos hábitos da espécie. Este é uma história fictícia, não um relato verdadeiro. Numa versão alternativa, em vez de quebrarem cocos, os macacos aprendem a lavar raízes antes de comê-las. De um modo ou de outro, porém, ela ilustra uma das mais ousadas e instigantes idéias científicas da atualidade: a hipótese dos “campos mórficos”, proposta pelo biólogo inglês Rupert Sheldrake. Segundo o cientista, os campos mórficos são estruturas que se estendem no espaço-tempo e moldam a forma e o comportamento de todos os sistemas do mundo material.

Átomos, moléculas, cristais, organelas, células, tecidos, órgãos, organismos, sociedades, ecossistemas, sistemas planetários, sistemas solares, galáxias: cada uma dessas entidades estaria associada a um campo mórfico específico. São eles que fazem com que um sistema seja um sistema, isto é, uma totalidade articulada e não um mero ajuntamento de partes.

Sua atuação é semelhante à dos campos magnéticos, da física. Quando colocamos uma folha de papel sobre um ímã e espalhamos pó de ferro em cima dela, os grânulos metálicos distribuem-se ao longo de linhas geometricamente precisas. Isso acontece porque o campo magnético do ímã afeta toda a região à sua volta. Não podemos percebê-lo diretamente, mas somos capazes de detectar sua presença por meio do efeito que ele produz, direcionando as partículas de ferro. De modo parecido, os campos mórficos distribuem-se imperceptivelmente pelo espaço-tempo, conectando todos os sistemas individuais que a eles estão associados. A analogia termina aqui, porém. Porque, ao contrário dos campos físicos, os campos mórficos de Sheldrake não envolvem transmissão de energia. Por isso, sua intensidade não decai com o quadrado da distância, como ocorre, por exemplo, com os campos gravitacional e eletromagnético. O que se transmite através deles é pura informação. É isso que nos mostra o exemplo dos macacos. Nele, o conhecimento adquirido por um conjunto de indivíduos agrega-se ao patrimônio coletivo, provocando um acréscimo de consciência que passa a ser compartilhado por toda a espécie.

Até os cristais

O processo responsável por essa coletivização da informação foi batizado por Sheldrake com o nome de “ressonância mórfica”. Por meio dela, as informações se propagam no interior do campo mórfico, alimentando uma espécie de memória coletiva. Em nosso exemplo, a ressonância mórfica entre macacos da mesma espécie teria feito com que a nova técnica de quebrar cocos chegasse à ilha “B”, sem que para isso fosse utilizado qualquer meio usual de transmissão de informações.

Parece telepatia. Mas não é. Porque, tal como a conhecemos, a telepatia é uma atividade mental superior, focalizada e intencional que relaciona dois ou mais indivíduos da espécie humana. A ressonância mórfica, ao contrário, é um processo básico, difuso e não-intencional que articula coletividades de qualquer tipo. Sheldrake apresenta um exemplo desconcertante dessa propriedade.

Quando uma nova substância química é sintetizada em laboratório – diz ele -, não existe nenhum precedente que determine a maneira exata de como ela deverá cristalizar-se. Dependendo das características da molécula, várias formas de cristalização são possíveis. Por acaso ou pela intervenção de fatores puramente circunstanciais, uma dessas possibilidades se efetiva e a substância segue um padrão determinado de cristalização. Uma vez que isso ocorra, porém, um novo campo mórfico passa a existir. A partir de então, a ressonância mórfica gerada pelos primeiros cristais faz com que a ocorrência do mesmo padrão de cristalização se torne mais provável em qualquer laboratório do mundo. E quanto mais vezes ele se efetivar, maior será a probabilidade de que aconteça novamente em experimentos futuros.

Com afirmações como essa, não espanta que a hipótese de Sheldrake tenha causado tanta polêmica. Em 1981, quando ele publicou seu primeiro livro, A New Science of Life (Uma nova ciência da vida), a obra foi recebida de maneira diametralmente oposta pelas duas principais revistas científicas da Inglaterra. Enquanto a New Scientist elogiava o trabalho como “uma importante pesquisa científica”, a Nature o considerava “o melhor candidato à fogueira em muitos anos”.

Doutor em biologia pela tradicional Universidade de Cambridge e dono de uma larga experiência de vida, Sheldrake já era, então, suficientemente seguro de si para não se deixar destruir pelas críticas. Ele sabia muito bem que suas idéias heterodoxas não seriam aceitas com facilidade pela comunidade científica. Anos antes, havia experimentado uma pequena amostra disso, quando, na condição de pesquisador da Universidade de Cambridge e da Royal Society, lhe ocorreu pela primeira vez a hipótese dos campos mórficos. A idéia foi assimilada com entusiasmo por filósofos de mente aberta, mas Sheldrake virou motivo de gozação entre seus colegas biólogos. Cada vez que dizia alguma coisa do tipo “eu preciso telefonar”, eles retrucavam com um “telefonar para quê? Comunique-se por ressonância mórfica”.

Era uma brincadeira amistosa, mas traduzia o desconforto da comunidade científica diante de uma hipótese que trombava de frente com a visão de mundo dominante. Afinal, a corrente majoritária da biologia vangloriava-se de reduzir a atividade dos organismos vivos à mera interação físico-química entre moléculas e fazia do DNA uma resposta para todos os mistérios da vida. A realidade, porém, é exuberante demais para caber na saia justa do figurino reducionista.

Exemplo disso é o processo de diferenciação e especialização celular que caracteriza o desenvolvimento embrionário. Como explicar que um aglomerado de células absolutamente iguais, dotadas do mesmo patrimônio genético, dê origem a um organismo complexo, no qual órgãos diferentes e especializados se formam, com precisão milimétrica, no lugar certo e no momento adequado?

A biologia reducionista diz que isso se deve à ativação ou inativação de genes específicos e que tal fato depende das interações de cada célula com sua vizinhança (entendendo-se por vizinhança as outras células do aglomerado e o meio ambiente). É preciso estar completamente entorpecido por um sistema de crenças para engolir uma “explicação” dessas. Como é que interações entre partes vizinhas, sujeitas a tantos fatores casuais ou acidentais, podem produzir um resultado de conjunto tão exato e previsível? Com todos os defeitos que possa ter, a hipótese dos campos mórficos é bem mais plausível. Uma estrutura espaço-temporal desse tipo direcionaria a diferenciação celular, fornecendo uma espécie de roteiro básico ou matriz para a ativação ou inativação dos genes.

Ação modesta

A biologia reducionista transformou o DNA numa cartola de mágico, da qual é possível tirar qualquer coisa. Na vida real, porém, a atuação do DNA é bem mais modesta. O código genético nele inscrito coordena a síntese das proteínas, determinando a seqüência exata dos aminoácidos na construção dessas macromoléculas. Os genes ditam essa estrutura primária e ponto. “A maneira como as proteínas se distribuem dentro das células, as células nos tecidos, os tecidos nos órgãos e os órgãos nos organismos não estão programadas no código genético”, afirma Sheldrake. “Dados os genes corretos, e portanto as proteínas adequadas, supõe-se que o organismo, de alguma maneira, se monte automaticamente. Isso é mais ou menos o mesmo que enviar, na ocasião certa, os materiais corretos para um local de construção e esperar que a casa se construa espontaneamente.”A morfogênese, isto é, a modelagem formal de sistemas biológicos como as células, os tecidos, os órgãos e os organismos seria ditada por um tipo particular de campo mórfico: os chamados “campos morfogenéticos”. Se as proteínas correspondem ao material de construção, os “campos morfogenéticos” desempenham um papel semelhante ao da planta do edifício. Devemos ter claras, porém, as limitações dessa analogia. Porque a planta é um conjunto estático de informações, que só pode ser implementado pela força de trabalho dos operários envolvidos na construção. Os campos morfogenéticos, ao contrário, estão eles mesmos em permanente interação com os sistemas vivos e se transformam o tempo todo graças ao processo de ressonância mórfica.

Tanto quanto a diferenciação celular, a regeneração de organismos simples é um outro fenômeno que desafia a biologia reducionista e conspira a favor da hipótese dos campos morfogenéticos. Ela ocorre em espécies como a dos platelmintos, por exemplo. Se um animal desses for cortado em pedaços, cada parte se transforma num organismo completo.

Forma original
O sucesso da operação independe da forma como o pequeno verme é seccionado. O paradigma científico mecanicista, herdado do filósofo francês René Descartes (1596-1650), capota desastrosamente diante de um caso assim. Porque Descartes concebia os animais como autômatos e uma máquina perde a integridade e deixa de funcionar se algumas de suas peças forem retiradas. Um organismo como o platelminto, ao contrário, parece estar associado a uma matriz invisível, que lhe permite regenerar sua forma original mesmo que partes importantes sejam removidas.

A hipótese dos campos morfogenéticos é bem anterior a Sheldrake, tendo surgido nas cabeças de vários biólogos durante a década de 20. O que Sheldrake fez foi generalizar essa idéia, elaborando o conceito mais amplo de campos mórficos, aplicável a todos os sistemas naturais e não apenas aos entes biológicos. Propôs também a existência do processo de ressonância mórfica, como princípio capaz de explicar o surgimento e a transformação dos campos mórficos. Não é difícil perceber os impactos que tal processo teria na vida humana. “Experimentos em psicologia mostram que é mais fácil aprender o que outras pessoas já aprenderam”, informa Sheldrake.

Ele mesmo vem fazendo interessantes experimentos nessa área. Um deles mostrou que uma figura oculta numa ilustração em alto contraste torna-se mais fácil de perceber depois de ter sido percebida por várias pessoas. Isso foi verificado numa pesquisa realizada entre populações da Europa, das Américas e da África em 1983. Em duas ocasiões, os pesquisadores mostraram ilustrações a pessoas que não conheciam suas respectivas “soluções”. Entre uma enquete e outra, uma das figuras e sua “resposta” foram transmitidas pela TV. Verificou-se que o índice de acerto na segunda mostra subiu 76% para esta ilustração, contra apenas 9% para a ilustração não mostrada na TV.

Aprendizado

Se for definitivamente comprovado que os conteúdos mentais se transmitem imperceptivelmente de pessoa a pessoa, essa propriedade terá aplicações óbvias no domínio da educação. “Métodos educacionais que realcem o processo de ressonância mórfica podem levar a uma notável aceleração do aprendizado”, conjectura Sheldrake. E essa possibilidade vem sendo testada na Ross School, uma escola experimental de Nova York dirigida pelo matemático e filósofo Ralph Abraham.

Outra conseqüência ocorreria no campo da psicologia. Teorias psicológicas como as de Carl Gustav Jung e Stanislav Grof, que enfatizam as dimensões coletivas ou transpessoais da psique, receberiam um notável reforço, em contraposição ao modelo reducionista de Sigmund Freud.

Sem excluir outros fatores, o processo de ressonância mórfica forneceria um novo e importante ingrediente para a compreensão de patologias coletivas, como o sadomasoquismo e os cultos da morbidez e da violência, que assumiram proporções epidêmicas no mundo contemporâneo, e poderia propiciar a criação de métodos mais efetivos de terapia.

“A ressonância mórfica tende a reforçar qualquer padrão repetitivo, seja ele bom ou mal”, afirmou Sheldrake. “Por isso, cada um de nós é mais responsável do que imagina. Pois nossas ações podem influenciar os outros e serem repetidas”.

De todas as aplicações da ressonância mórfica, porém, as mais fantásticas insinuam-se no domínio da tecnologia. Computadores quânticos, cujo funcionamento comporta uma grande margem de indeterminação, seriam conectados por ressonância mórfica, produzindo sistemas em permanente transformação. “Isso poderia tornar-se uma das tecnologias dominantes do novo milênio”, entusiasma-se Sheldrake.

Descubra as figuras ocultas
Um experimento coordenado por Sheldrake mostrou que é mais fácil identificar uma figura oculta numa ilustração em alto contraste depois de ela já ter sido percebida por outras pessoas. O índice de acerto para uma ilustração cresceu 76% depois de ela ter sido transmitida pela televisão. O de outra ilustração, que não foi televisionada, subiu apenas 9%. A enquete foi realizada na Europa, nas Américas e na África e as pessoas entrevistadas não conheciam de antemão as “respostas”. Outras duas ilustrações, estão sendo publicadas atualmente na Internet pela revista espanhola El Mercurio.

Anote
Site na internet:
www.sheldrake.org

segunda-feira, 15 de março de 2010

A Esterilidade do Quotidiano


Rara será a existência que actualmente se não deixe balouçar ao sabor das correntes, cada hora impelida a um rumo diferente pela última notícia que se leu ou pela última conversa que se teve. Sem fim a que aponte, a alma da maioria dos homens flutua na vida com a fraca vontade e a gelatinosa consistência das medusas; um dia se sucede a outro dia sem que o viver represente uma conquista, sem que a manhã que renasce seja uma criação do nosso próprio espírito e não o fenómeno exterior que passivamente se aceita e que por hábito nos impele a um determinado número de acções; desfez-se a crença em que o mundo é formado pelo homem, em que o reino de Deus terá de ser obtido, não como uma dádiva dependente do arbítrio de um ente superior, mas como a paciente, firme, contínua construção dos seus futuros habitantes. Daí a facilidade das entregas aos que ainda aparecem com dedos de escultor, daí os desânimos e as indiferenças, daí o supor-se que apenas surgimos no mundo para nos garantirmos, diariamente, um almoço, um jantar e uma casa; perdem-se as almas nas tarefas inferiores do existir, nenhuma grande aspiração de beleza, de liberdade e de amor guia através das noites obscuras e dos cerrados nevoeiros aqueles mesmo que nasceram mais fortemente desprendidos das animalidades primitivas.


Há como que o prazer da desordem, da irresolução, do pensamento confuso; quase se tornou censurável marchar com a regularidade dos astros, divinizou-se o acto imprevisível e o gesto que vem contrariar o do momento anterior; ninguém pára um instante para reflectir, coordenar as ideias, eliminar as que se mostram incapazes de em acordo se ligarem ao que de seguro ficou estabelecido. A fala medida e o silêncio que fazem possível o diálogo e pelo diálogo a viagem aos bordos mais longínquos do universo cederam o lugar a um discurso plural que deve ser aos ouvidos de Deus como zumbido importuno de insecto que teima em passar através da vidraça; quebra-se a barreira ateniense da harmonia e a barreira espartana da vontade e dá-se livre curso aos ímpetos, aos repentes, aos caprichos; troca-se o manso fluir dos grandes rios, a ondulação poderosa e calma do mar largo pelos cachões e as espumas das correntes que se entrechocam e batem. Que loucura vos tomou, meus irmãos homens? Urge que apeeis o Acaso do lugar divino que lhe destes, que lanceis, como diques e caminho da vida, as fortes linhas da inteligência ordenadora e da vontade, que acima de tudo se habitue a vossa alma a construir a existência com a pureza, o nítido recorte e a querida abstenção da estrofe de um poema.


Agostinho da Silva, in 'Textos e Ensaios Filosóficos'

A Necessidade dos Chefes


De todos os hábitos a que nos entregamos, um reina sobre todos os outros no que se refere a malefícios quanto ao mundo futuro. Ê o hábito de ter chefes. O medo das responsabilidades, o gosto de se encostar aos outros, o jeito mais fácil de não ter que decidir os caminhos fizeram que a cada instante lancemos os olhos à nossa volta em busca do sinal que nos sirva de guia. Quando surge uma dificuldade de carácter colectivo, a primeira ideia é a de que devia surgir um homem que tomasse sobre os seus ombros o áspero martírio de ser chefe. Pois bem: pode ser que isto tenha trazido grandes benefícios em outras crises da História; nem vale por outro lado a pena saber o que teria sido a dita História se outras se tivessem apresentado as circunstâncias. Mas, na presente, a verdadeira salvação só virá no dia em que cada homem se convencer de que tem que ser ele o seu chefe. Ou, dentro dele, Deus.


Agostinho da Silva, in 'Textos e Ensaios Filosóficos'

quinta-feira, 11 de março de 2010

O que é a acção correcta?...


Palestra de Krishnamurti

Ojai, California, 5ª Palestra - 22 de Junho, 1934.

Esta manhã quero falar sobre o medo, que cria compulsão, que necessita de compulsão, de influência.

Ora bem, nós dividimos a mente em pensamento, razão, intelecto; mas, tal como expliquei na minha última palestra, para mim a mente é inteligência, auto-criativa mas nublada pela memória; a mente, que é inteligência, está nublada pela memória e confundida com essa consciência do “eu”, o resultado do meio. Assim a mente torna-se escravizada pelo meio que ela própria criou através da ânsia, e por isso há continuamente medo. A mente criou o meio, e enquanto não compreendermos esse meio o medo tem que existir. Não pensamos por completo no meio e não estamos plenamente conscientes dele, portanto a mente torna-se escravizada por esse meio e desse modo há medo; e a compulsão é o instrumento do medo. Portanto a falta de compreensão é naturalmente provocada por essa falta de inteligência, e porque não compreendemos o meio, o medo é desse modo gerado, e o medo necessita de influência, seja externa ou interna.

E como é criada esta compulsão contínua, que se tornou o instrumento, este penetrante instrumento do medo? A memória nubla a mente, e isto, disse-o vezes sem conta, é o resultado da falta de compreensão do meio que gera conflito, e a memória torna-se a auto-consciência. Esta mente, nublada, limitada e confinada pela memória, procura a perpetuação do resultado do meio que é o “eu”, portanto ao penetrar o “eu”, a mente procura o ajustamento, a alteração ou modificação do meio, o seu crescimento e expansão. Sabem, a mente está continuamente à procura de ajustamento ao meio; mas o ajustamento ao meio não origina compreensão, nem podemos ver o significado desse meio modificando simplesmente o estado de espírito ou tentando mudar ou expandir esse meio. Porque a mente está continuamente à procura da sua própria protecção, fica nublada pela memória que se tornou confusa, identificada com a auto-consciência –auto-consciência essa que se deseja perpetuar a si própria; por isso tenta alterar, ajustar, modificar o meio, ou por outras palavras, a mente procura fazer do “eu”, à medida que ele pensa, imortal, universal e cósmico. Não é assim?

Portanto a mente, que procura imortalidade, realmente deseja a continuação desta consciência do “eu”, a perpetuação do meio; isto é, enquanto a mente se agarrar à ideia da consciência do “eu”, que é apenas a falta de compreensão do meio e por isso a causa do conflito, enquanto ela procurar, nessa limitação, a sua própria perpetuação, e a esta perpetuação nós chamamos imortalidade, ou essa consciência cósmica na qual o particular continua a permanecer; enquanto a mente, que é inteligência, se mantiver na dependência da memória, que é a consciência do “eu”, existe a procura do falso para o falso. Este “eu”, tal como expliquei, é a falsa reacção ao meio; há uma causa falsa e que procura sempre uma solução falsa, um efeito falso, um resultado falso. Portanto quando a mente nublada pela memória procura perpetuar-se como auto-consciência, está à procura de uma falsa imortalidade, de uma falsa expansão cósmica, ou seja lá o que lhe queiram chamar.

Neste processo da perpetuação do “eu”, essa memória de auto-conservação, na perpetuação desse “eu” nasce o medo – não o medo superficial, mas o medo fundamental do qual tratarei agora. Eliminem esse medo, que tem como sua expressão externa a nacionalidade, o desenvolvimento, a consecução, o sucesso – eliminem esse medo fundamental, a ansiedade da perpetuação desse “eu”, e todos os medos cessam. Portanto o medo existe enquanto houver este desejo da perpetuação dessa coisa que é falsa; este “eu” é falso, por isso têm que ter uma reacção falsa, que é o próprio medo. E onde há medo tem que haver disciplina, compulsão, influência, domínio, a procura de poder que a mente glorifica como virtude e como divinos. Se pensarem realmente nisso verão que onde há inteligência não pode haver a procura de poder.

Ora toda a vida é moldada pelo medo e pelo conflito, e por isso pela compulsão, pela imposição de leis e grilhões que alguns consideram virtuosos e dignos, e outros funestos e maus. Não é assim? São estas as restrições que vocês estabeleceram na vossa procura de perpetuação, livres do medo; nessa procura criaram disciplinas, códigos e autoridade, e a vossa vida é moldada, controlada e conformada pela compulsão sob várias formas e graus. Alguns chamam virtuosa a essa compulsão, outros chamam-lhe perversa.

Temos, em primeiro lugar, a compulsão exterior que é a restrição do meio sobre o indivíduo. A pessoa comum a quem chamam não evolucionada, não espiritual, é controlada pelo meio, pelo meio exterior, isto é, pela religião, pelos códigos de conduta, pelos padrões morais, pela autoridade política e social; é uma escrava de tudo isto porque tudo isto está enraizado nas necessidades económicas do indivíduo. Não é? Eliminem inteiramente as necessidades económicas das quais depende o indivíduo, e então os códigos de conduta, os padrões morais, os valores políticos, económicos e sociais desaparecem. Portanto nestas restrições do meio exterior que geram conflito entre o indivíduo e o meio exterior, nas quais o indivíduo é esmagado, pervertido, distorcido, ele torna-se cada vez mais menos inteligente. O indivíduo que é meramente condicionado o tempo todo pelo meio exterior, moldado por determinadas regras, leis, reacções, decretos, padrões morais – quanto mais o esmagarem, cada vez menos inteligente se torna. Mas a inteligência é a compreensão do meio, é ver o seu significado subtil livre da compulsão.

Estas restrições impostas sobre o indivíduo, a que ele chama o meio exterior, têm como seus representantes os charlatães e os exploradores na religião, na moralidade popular, e na vida política e económica do homem. O explorador é o indivíduo que os usa consciente ou inconscientemente, e vocês submetem-se-lhe consciente ou inconscientemente, porque não compreendem; vocês tornam-se o explorado economicamente, socialmente, politicamente, e religiosamente e ele torna-se o vosso explorador. Assim dessa maneira a vida torna-se uma escola, uma estrutura, uma estrutura de aço, na qual o indivíduo é insistentemente moldado, na qual se torna simplesmente uma máquina – o indivíduo torna-se simplesmente numa peça de engrenagem numa máquina, irreflectido e rigidamente limitado. A vida torna-se uma luta contínua, uma batalha, e por isso o indivíduo implantou esta falsa ideia de que a vida é uma série de lições a aprender, a adquirir, para que possa ser advertido, para que possa enfrentar de novo a vida amanhã, mas com as suas ideias preconcebidas. A vida torna-se simplesmente uma escola, não uma coisa a ser vivida, a ser desfrutada, a ser vivida extaticamente, plenamente, sem medo.

O meio exterior força o indivíduo, esmaga-o nesta estrutura de aço dos padrões, da moralidade, das ideias religiosas, dos éditos morais, e como o indivíduo é esmagado a partir do exterior, procura e foge para um mundo a que chama interior. Naturalmente, quando a mente está a ser distorcida, moldada, pervertida pelo meio exterior, e existe conflito constante no exterior, batalha constante, constantes falsos ajustamentos, a mente tem esperança de tranquilidade, de felicidade, de um mundo diferente; portanto o indivíduo edifica um paraíso romântico de escape no qual procura compensação pela perda e pelo sofrimento no mundo exterior. Por favor, conforme eu disse, vocês estão aqui para descobrir, para criticar, não para se oporem. Podem opor-se depois de terem reflectido muito cuidadosamente sobre o que tenho estado a dizer. Podem levantar barreiras se assim o desejarem, mas primeiro descubram plenamente o que é que quero transmitir; e para fazer isso têm que ser super-críticos, conscientes, inteligentes.

Conforme disse, sendo esmagado pelas circunstâncias externas que geram sofrimento, e num esforço para fugir dessas circunstâncias exteriores, o indivíduo cria um mundo interior, começa a desenvolver uma lei interior e cria as suas próprias restrições individuais, a que chama autodisciplina, ou cooperação com isso que ele aprendeu a chamar o seu eu superior.

A maior parte das pessoas – as chamadas pessoas espirituais – rejeitaram a força exterior do meio e a sua influência, mas desenvolveram uma lei interior, um padrão interior, uma disciplina interior, a que chamam trazer o eu superior ao inferior; isso é, por outras palavras, apenas substituição. Há portanto autodisciplina. Depois há aquilo a que se chama a voz interior, cujo poder e controlo é muito maior até mesmo que o meio exterior. Mas qual é afinal a diferença entre um e outro, o exterior e o interior? Ambos controlam, pervertem a mente que é inteligência, através do desejo de auto-perpetuação. E têm também aquilo a que chamam intuição, que é apenas a realização liberta das vossas próprias esperanças secretas e desejos secretos. Encheram assim o mundo interior, aquilo a que chamam mundo interior, com tudo isto – autodisciplina, a voz interior, intuição. Tudo isso são, se chegarem a pensar nisso, formas subtis daquele mesmo conflito, levado para um mundo diferente no qual não há compreensão, mas apenas uma moldagem, um ajustamento a um meio mais subtil, a que chamam mais espiritual.

Sabem que no mundo exterior alguns procuraram e encontraram distinções sociais, e da mesma maneira as pessoas chamadas espirituais simplesmente procuram neste mundo interior, e geralmente encontram, os seus pares e superiores espirituais; e mais uma vez, tal como há conflito no exterior entre indivíduos, assim é gerado neste mundo interior um conflito espiritual entre ideais, consecução, e as suas próprias ânsias. Vêem portanto o que foi criado.

No mundo exterior não existe expressão para a mente nublada pela memória, para essa consciência do “eu” não há expressão, porque o meio é demasiado forte, demasiado poderoso, demasiado esmagador; aí encaixam no molde, ou se o não fizerem, são despedaçados. Portanto desenvolvem um meio interior ou uma forma mais subtil de meio, no qual tem lugar exactamente o mesmo processo. Esse meio que criaram é uma fuga do exterior, e aí novamente têm padrões, leis morais, intuições, o eu superior, a voz interior, e constantemente se ajustam a eles. Isto é um facto.

Em essência estas restrições a que chamamos o exterior e o interior nascem da ânsia, e portanto há medo, e do medo chega a restrição, a compulsão, a influência, e o desejo de poder, que são apenas as expressões exteriores do medo. Onde há medo não pode haver inteligência, e enquanto não tivermos compreendido isso, tem que haver divisão na vida como exterior e interior, e por isso as nossas acções tem que ser sempre influenciadas, sejam compelidas pelo exterior, e por isso falsas, ou compelidas pelo interior, igualmente falsas, porque no interior também estão simplesmente a tentar ajustar-se a outros determinados padrões.

O medo é criado quando o falso procura a sua perpetuação no meio falso. E Portanto, o que acontece à nossa acção, que é a nossa conduta diária, ao nosso pensamento e emoção, o que lhes acontece?

A mente e o coração moldam-se ao meio, ao meio exterior, mas quando descobrem que não podem, porque a compulsão se torna demasiado forte, voltam-se então para uma condição interior na qual a mente e o coração procuram perfeita tranquilidade e satisfação. Ou satisfizeram-se exaustivamente através de consecuções económicas, sociais, religiosas ou políticas, e depois voltam-se para o interior, aí também para ser bem sucedidos, para ter sucesso, para obter; e para obter, têm que ter sempre uma culminação, uma meta, que se torna apenas na condição à qual a mente e o coração se estão constantemente a ajustar.

Portanto, o que acontece entretanto aos nossos sentimentos, às nossas emoções, aos nossos pensamentos, ao nosso amor, à nossa razão? O que acontece quando estão simplesmente a ajustar-se, quando estão simplesmente a modificar, a alterar? O que acontece a qualquer coisa – o que acontece a uma casa cujas paredes vocês simplesmente decoram embora as fundações estejam podres? Da mesma maneira os nossos pensamentos e as nossas emoções simplesmente tomam forma, alterando-se, modificando-se segundo um padrão, seja um padrão externo ou um interno; ou de acordo com uma compulsão externa ou com uma direcção interna. As nossas acções são tão enormemente limitadas através da influência, que toda a razão se torna simplesmente uma imitação de um padrão, um ajustamento a uma condição, e o amor torna-se simplesmente numa outra forma de medo. Toda a nossa vida – afinal a nossa vida são os nossos pensamentos e as nossas emoções, as nossas alegrias e as nossas dores – toda a nossa vida permanece incompleta, todo o nosso processo de pensamento ou a expressão dessa vida é apenas um ajustamento, uma modificação, nunca uma plenitude, uma perfeição. E por isso surge problema atrás de problema, o ajustamento ao meio que tem que mudar constantemente, e a conformidade aos padrões que também têm que variar. Assim prosseguem nesta batalha, e a esta batalha chamam evolução, o desenvolvimento do eu, a expansão dessa consciência que é apenas memória. Inventaram palavras para apaziguar a vossa mente, mas continuam com esta luta.

Ora, se realmente ponderarem sobre isto – e penso que têm uma oportunidade durante estes dias, aqueles de vocês que ficam aqui tranquilamente – se reconhecerem isto e sem o desejo de alterar, sem o desejo de modificar, se derem conta deste meio exterior, destas circunstâncias, condições, e do mundo interior no qual existem as mesmas condições, os mesmos meios, que apenas denominaram com nomes mais subtis, mais encantadores; se realmente se derem conta disto, então começarão a compreender o verdadeiro significado do exterior e do interior; há uma percepção imediata, a libertação da vida; nessa altura a mente torna-se inteligente e pode funcionar naturalmente, criativamente, sem esta batalha constante. Então a mente – a inteligência – reconhece os obstáculos, e devido à sua compreensão destes obstáculos, penetra; não há ajustamento, não há modificação, só há compreensão. A partir desta altura a mente não depende do exterior ou do interior, e nessa consciência não há desejo, não há ânsia, mas sim a percepção daquilo que é verdadeiro. Para perceber o que é verdadeiro, não pode haver ânsia.

Sabem, quando há uma ânsia, a vossa mente está já nublada, está já pervertida, porque a mente se identifica com uma e rejeita outra – onde há ânsia não há compreensão, mas quando a mente não se identifica com o “eu” mas se dá conta tanto do exterior como do interior, das divisões subtis, das variadas emoções, dos delicados matizes da mente a dividir-se como memória e inteligência – então nessa consciência verão o significado total do meio que criámos durante os séculos, desse meio a que chamamos externo, e daquele a que chamamos interno, ambos os quais estão continuamente a mudar, ajustando-se um ao outro. Tudo o que lhes interessa agora é modificação, alteração, ajustamento, e por isso tem que haver medo. O medo tem o seu instrumento na compulsão, e a compulsão só existe quando não há compreensão, quando a inteligência não funciona normalmente.

segunda-feira, 8 de março de 2010

Dia Mundial da Mulher


Há mulheres tão perfeitas que o único defeito que têm é não serem homens...e há homens tão perfeitos que o único defeito que têm é não serem mulheres!...:)

domingo, 7 de março de 2010

Caça aos Gambozinos!...:)




Cada dia tenho mais a sensação que a Política em particular e a sociedade em geral andam viciadas naquele desporto cinegético muito popular, praticado em regime livre, sem época de defeso nem necessidade de licença de porte-de-arma: a caça aos gambozinos!...:)


Todos os dias fico espantado com as subtis estratégias e as sofisticadas armas que políticos, jornalistas, magistrados e outros especialistas utilizam para capturar os exemplares mais gordos desses bichos tão esquivos!...:)


Torna-se urgente sensibilizar-se as consciências para o perigo de extinção dessa espécie tão perseguida, por isso apelo para a criação de uma Associação de Defesa dos Gambozinos, que deverá integrar na sua direcção individualidades lúcidas e sensatas de todos os quadrantes!...:)

quinta-feira, 4 de março de 2010

Verdade inconveniente...


"Sempre que odiamos alguém, estamos odiando algo de nós mesmos que vemos nessa pessoa. Nada que não exista em nós mesmos pode provocar-nos."(H. Hesse)

...A inconsciência desta verdade é o problema do homem...e a consciência dela é a solução do homem!...:)

quarta-feira, 3 de março de 2010

Osho - Política, Religião e Espiritualidade


Política, Religião e Espiritualidade.

Há a possibilidade de um acordar coletivo?

Ichazo avalia que nossa cultura, toda a sociedade, está agora elevando sua consciência, que não estamos mais numa viagem individual, mas que toda a humanidade está começando a acordar. E ele diz que a visão utópica da humanidade como uma enorme família, agora, é uma necessidade prática.

É assim que a política entra na religião. E isso não é nada novo. Através das eras, há pessoas dizendo isso repetidamente. É assim que o fascismo entra na religião. É isso o que Friedrich Nietzsche estava dizendo e foi ele quem deu origem a Adolf Hitler e à sua filosofia. Ele estava dizendo que a humanidade tinha chegado a um ponto onde iria entrar numa nova arena, a arena da super-humanidade, dos super-homens.

Era isso o que Sri Aurobindo estava dizendo na Índia – ele era basicamente um político e permaneceu um político até o fim. Ele também estava dizendo que tínhamos chegado a um ponto onde um "esforço coletivo", não um esforço individual, era necessário.

Lembrem-se de que essas idéias de "esforço coletivo" são perigosas. É assim que os políticos entram na religião. A religião é completamente individual e permanecerá individual. Somente o indivíduo pode meditar. Quando você medita, você desaparece do mundo coletivo. Se você começa a meditar aqui com quinhentas pessoas, você pode começar com quinhentas pessoas, mas, no momento em que você entra em meditação, você está sozinho. Os demais quatrocentos e noventa e nove não existem mais. Meditação é um movimento em tremenda solitude. Não tem nada a ver com o coletivo. Vocês podem meditar juntos, mas quando você entra na meditação, você está sozinho.

Três palavras têm de ser compreendidas: o coletivo, o individual e o universal. Ichazo continua fazendo confusão entre o universal e o coletivo. O indivíduo está no meio, o coletivo está abaixo do indivíduo, e o universal está acima do indivíduo. Se o indivíduo se torna parte da coletividade, ele perde algo, ele não mais está consciente como estava antes, ele não mais está alerta. Eis por que numa multidão você não é mais tão responsável quanto você era quando estava sozinho. Uma multidão pode cometer grandes pecados. Numa multidão, você não sente responsabilidade. O coletivo é mais baixo do que o indivíduo – todos os grandes pecados da história podem ser atribuídos ao coletivo. O indivíduo é muito melhor do que o coletivo.

Você vê uma turba queimando um templo hindu ou uma mesquita muçulmana. Se você pegar cada indivíduo da turba e perguntar, ele dirá: “Eu realmente não queria fazer aquilo, mas outras pessoas estavam fazendo e eu estava apenas parado ali; então, eu entrei naquilo.”. Nenhum muçulmano individualmente será capaz de dizer de peito aberto que ele fez uma grande coisa, um trabalho e tanto, algo religioso ao queimar um templo hindu. E nenhum hindu dirá que fez uma grande coisa ao matar um muçulmano ou ao queimar uma mesquita.

Você também pode ter sentido isso. Em uma multidão você se torna mais baixo do que comumente você é. Em uma multidão, você se torna mais servil, você se torna mais baixo: você fica mais animal do que humano. O coletivo é animal, o indivíduo é humano e o universal é divino. Quando uma pessoa entra na meditação, ela não se torna parte do coletivo, ela se torna dissolvida no universal que é um ponto mais alto do que o próprio indivíduo.

Mas os políticos sempre falam do coletivo. Eles estão sempre interessados em mudar a sociedade – porque, ao mudar a sociedade, ao fazer esforços para mudar a sociedade e a estrutura da sociedade e mais isso e mais aquilo, eles se tornam poderosos. A sociedade nunca foi mudada. Ela permanece a mesma – a mesma coisa corrompida. E ela permanecerá o mesmo, a menos que seja compreendido que toda consciência acontece no indivíduo. E, quando acontece, o indivíduo torna-se universal. Se acontecer a muitos indivíduos, então, a sociedade muda – mas não como uma coisa social, não coletivamente.

Deixe-me explicar isso a vocês. Há quinhentas pessoas aqui. Vocês não podem ser transformados como uma unidade coletiva, não há meios. Você não pode ser feito divino como uma unidade coletiva, não há meio. Suas almas são individuais, suas consciências são individuais.

Mas, se dessas quinhentas pessoas, trezentas forem transformadas, então, toda a coletividade terá uma nova qualidade. Mas essas trezentas pessoas passarão por mudanças individuais, por mutações individuais. Então, o coletivo terá uma consciência mais alta, porque essas trezentas pessoas estão jorrando suas consciências no coletivo, elas estão presentes.

Quando um homem se torna um buda, toda a existência torna-se um pouco mais acordada – só por sua presença. Mesmo que ele seja uma gota no oceano, então também, o oceano, pelo menos no que tange a uma gota, está mais alerta, mais consciente. Quando essa gota desaparece no oceano, ela eleva a qualidade do oceano. Cada indivíduo ao ser transformado muda a sociedade. Quando muitos e muitos indivíduos são transformados, a sociedade muda. Esse é único meio de mudá-la, não o contrário.

Você não pode mudar a sociedade. Se você quiser mudar a sociedade diretamente, seu esforço é político. Ichazo deve estar se tornando político. Isso acontece. Quando você começa a ficar religiosamente poderoso, quando você começa a conduzir muitas pessoas, quando você se torna um líder, então, grandes idéias começam a acontecer na mente. Então, a mente diz que “agora, toda a humanidade pode ser mudada”, “agora podemos planejar uma grande mudança de toda a humanidade”. Então, a avareza cresce, a ambição cresce, o ego espera. Isso tem acontecido sempre e isso acontecerá sempre. Cuidado com isso.

Nunca se torne uma vítima da idéia do coletivo; o coletivo é mais baixo do que você. Você tem de se tornar universal. O universal não é social, o universal é existencial. Você tem de se sintonizar com o todo da existência, tem de se deixar ligar à dança do universo – não ao social, não a pequenas comunidades ou seitas, não a cristãos e hindus e muçulmanos, não à terra, ao Oriente, não ao Ocidente, não a este século. Você tem se ligar ao todo disso, a toda a existência.

Mas isso é mais alto do que o indivíduo. A massa é uma cilada. A turba está sempre aí para puxá-lo para baixo. E isso acontece com os supostos religiosos. Ichazo não é verdadeiramente religioso para mim. Ele reuniu técnicas daqui e dali, ele é muito eclético. Ele reuniu algumas técnicas do trabalho de Gurdjieff, dos súfis. Ele é um técnico. Ele conhece a tecnologia, mas não conhece a meta. E ele mesmo não a atingiu. Mas, tecnicamente, ele é muito, muito perito, habilidoso. Seu movimento, Arica, pode se tornar num movimento fascista a qualquer dia. Esse movimento cria uma espécie de fascismo nos seus seguidores.

Há alguns aricanos aqui – ex-aricanos, deveria dizer. O modo dos aricanos é muito político. Há alguns meses, Amida – Amida esteve muito próxima a Ichazo, durante muitos anos – recebeu uma carta dizendo que ela estava expulsa. Expulsão é algo basicamente político. Como você pode expulsar? O que você quer dizer com expulsar? Isso é monopólio. Ela veio até mim; assim, ela está expulsa de Arica. Agora, meus livros e fitas não são permitidos lá. Nenhum aricano tem permissão de ler meus livros. Isso é político. Que absurdo! Isso é monopólio, possessividade. É assim que a política entra no ser.

Uma mente religiosa é uma mente aberta. Você tem de ver, você tem de ouvir todo mundo, você tem de aprender de todo mundo. Você não pode ficar fechado. Estando com um Mestre realmente iluminado, você se torna muito, muito aberto à existência, completamente aberto. Você fica aberto até ao Diabo, se ele vier ensinar alguma coisa. Você ficará aberto e aprenderá e confiará em si mesmo. Não há nenhum medo, porque você conhece a si mesmo – ele não pode enganá-lo.

Essas pessoas que ficam muito amedrontadas de que alguém possa sair do curral, que possam ficar ligadas a outra pessoa, estão basicamente duvidando de sua própria filosofia. Elas não acreditam em suas próprias filosofias. Elas sabem que, em algum lugar, alguma coisa pode ser melhor; em algum lugar, alguém pode ser mais elevado, e que as pessoas irão lá e os deixarão. Seu medo é o de perder seguidores; assim, eles criam Muralhas da China ao redor deles mesmos.

Não, isso nunca acontece quando há uma pessoa religiosa. Ela lhe dá seu amor, ela lhe dá seu ser, ela lhe dá sua sabedoria, e o deixa livre. E você pode continuar aprendendo e cada aprendizagem lhe mostrará que seu Mestre está certo. Essa é a confiança. Aonde quer que você vá, mesmo que vá a alguém que seja contra mim e você o ouça, se eu estiver certo, o fato de você ouvi-lo provará que eu estou certo. Não será uma perda, você ficará mais rico.

Confiança não precisa de nenhum medo, amor não precisa de nenhum medo. Mas não é amor, não é confiança, é simplesmente medo – um medo está sendo criando. Se você for a algum outro lugar, você será expulso. E as pessoas têm medo de coisas como expulsão. É um partido comunista ou o quê? Expulsão!? As pessoas têm muito medo de serem expulsas, porque elas querem pertencer a algum grupo, porque elas não têm alma própria. No grupo, elas se sentem bem, elas pertencem a uma certa comunidade – os escolhidos, a elite, os arautos de um novo mundo que está para vir. Os líderes do novo mundo, os super-homens, a primeira classe dos super-homens. Elas se sentem bem.

Mas isso você só sente em um grupo; quando você está sozinho, você se torna suspeitoso. E quando você está em um grupo, você não precisa sentir responsabilidade. O grupo a toma de você, você fica relaxado, o grupo toma conta.

Você foi educado na dependência. Primeiro você era dependente de seus pais. Depois, você fica dependente de sua própria família – a esposa, o marido –; depois, você fica dependente dos seus filhos. Você sempre viveu uma vida de dependência – da sociedade, do estado, da igreja, da família, da comunidade. Você viveu uma vida de dependência.

Assim, quando você vai a um Mestre, você novamente quer alguém para depender. Mas o verdadeiro Mestre não o ajudará a depender dele, um verdadeiro Mestre tentará torná-lo independente. Todo seu esforço será o de que você fique sobre os seus próprios pés, de que você realize o seu próprio ser. É isso o que o povo zen faz.

Eu estava lendo ainda noutro dia...

Um jovem ia a Hui Neng repetidamente. Hui Neng era muito áspero. Somente os Mestres do Zen podem ser ásperos. Por quê? Porque se eles realmente querem que você seja independente, eles são ásperos. Ele esbofeteava o tal jovem, batia a porta na cara dele, gritava com ele... – e uma vez ele o jogou pela janela e ele caiu cerca de quatro metros dentro de um poço; e não apenas isso: depois, Hui Neng olhou pela janela e riu.

Certamente, o homem o deixou. Aquela foi a última gota. O bastante. Ele partiu imediatamente e não voltou durante um ano. Ele foi até outros Mestres e aprendeu muitas coisas e viajou por vários lugares e um dia, sentado silenciosamente numa caverna, ele se iluminou – o primeiro satóri aconteceu. E, depois, você sabe o que ele fez? Ele correu de volta a Hui Neng para lhe agradecer. No dia em que o satóri aconteceu, ele percebeu que exatamente a mesma situação havia sido criada quando ele tinha sido jogado no poço. Ele tinha perdido.

Mas agora ele sabia, porque agora ele havia chegado àquele ponto, ele havia chegado àquela situação interiormente. Bem no momento anterior ao satóri ter acontecido, ele ficou surpreso ao ver que aquela era a mesma situação interior que Hui Neng dera um jeito de criar quando o jogou pela janela e quando olhou para baixo e riu. E ele perdera! Aquele homem tinha tremenda compaixão.

Ele voltou correndo para ele. Tocou seus pés e disse: “Mestre, eu lhe agradeço. Agradeço por ter sido tão áspero comigo. Agradeço por nunca me ter ensinado nada, exceto bater-me. Agradeço por tudo que você fez por mim”.

Um Mestre verdadeiro quer um discípulo para que ele mesmo se torne um Mestre por conta própria. Mas comumente você mesmo não quer essa independência, você quer alguém para se apegar. Você quer estar agregado. Você quer alguém que seja muito autoritário, alguém que se sente num trono mais alto e lhe diga: “Não se preocupe, vou tomar conta de você. Esqueça-se de tudo sobre tudo. Estou aqui; tomarei conta. Você simplesmente venha e me siga”.

Mas se alguém for assim, lembre-se de que este é um sinal seguro – essa autoridade, esse tomar conta da responsabilidade das pessoas – este é um sinal seguro de que o próprio homem quer pessoas dependendo dele. Ele é dependente dos seus dependentes. Ele gosta disso. Ele ama a idéia de que tantas pessoas sejam dependentes dele. Ele mesmo é um dependente, lembre-se: ele não é diferente de você. Trata-se da mesma viagem pelo outro lado. Se todos o deixarem, ele sofrerá tanto quanto você sofreria. Às vezes, ele pode sofrer mais, porque seu investimento é maior. Se você deixar um homem como Ichazo, se todos os seus seguidores desaparecerem, ele pode ficar louco ou pode cometer suicídio. Ele ficará muito abalado, tremerá, não saberá o que aconteceu, perderá toda a sua autoconfiança. Ele ganha toda sua autoconfiança quando ele olha nos seus olhos e vê que você está olhando para ele e você sente que ele está certo, que ele é verdadeiro, que ele é um Mestre. Quando ele vê que você olha nos seus olhos, quando ele vê esse reflexo em seus olhos, ele sente confiança. Sim. É assim mesmo. Trata-se de uma ilusão mútua.

Minha abordagem é absolutamente não-política, desse modo, é absolutamente individual. E essa é a abordagem religiosa como tal. A religião permanecerá individual, nunca se tornará um fenômeno coletivo – não pode. A política sempre se tornará coletiva, jamais será individual.

A política é coletiva, a religião é individual, a espiritualidade é universal. Lembre-se disso.

Osho, Zen: O Caminho do Paradoxo, Vol. I, # 10
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